Livros e capas
Ninguém almoça nessa terra. Sério. Durante a semana, é sanduba correndo na mesa do escritório. Sábado e domingo, brunch.
Mas eu me recuso, então sempre dou uma descidinha do escritório até a lanchonete do lado, comer um sushi daqueles prontos ou um wrap. Coisa de quinze minutinhos, só para dar o intervalo. Não vou impingir meus hábitos terceiro-mundistas de uma hora de almoço àquelas pessoas tão civilizadas.
Hoje resolvo demorar e dar uma laricada, então corro até o McDonald's, que aqui realmente é comida de pobre. Paro antes numa livraria, e acabo levando uma daquelas edições baratinhas de Crime e Castigo. Fazia tempo que queria ler, $3,50, dou-lhe uma, dou-lhe duas, vendido.
Estou eu com meu Quarteirão com Queijo na mão, o livro em cima da mesinha, quando o homem do meu lado me aborda. Meia idade, gordo, suado, barba por fazer, dentes amarelos, de boné e regata branca, atacando um Big Mac com vontade.
Com licença, você está lendo esse livro para a escola? pergunta, com a boca meio cheia.
Não, respondo. Sempre tive vontade e achei em promoção na livraria aqui do lado.
Para entendê-lo, é interessante ter conhecimento de filosofia. Você já leu Nietzsche?
Muito pouco, nas aulas de introdução de filosofia da faculdade, e isso tem uns bons dez anos.
Segue-se uma aula de quinze minutos sobre o conceito do "übermensch" e como ele se aplica ao personagem de Raskolnikov. Minha batata frita até esfriou.
Agradeço efusivamente.
Aproveite a leitura. Queria dizer para você divertir, mas duvido que será o caso. De qualquer jeito, é um livro maravilhoso. E ele sai, carregando consigo uma cópia surrada de "A Náusea", de Sartre.
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