N'Awlins
Em janeiro de 1994, eu era uma alegre mocinha de 17 para 18 anos que foi fazer intercâmbio numa cidadezinha de 11 mil habitantes chamada Jennings, nos Estados Unidos. Mal pus o pé lá, fiquei me coçando para conhecer a maior cidade do Estado, que eu tinha loucura para ir. Demorou, mas fui, umas três vezes, e virou uma das minhas cidades favoritas. Linda, alegre, violenta. Sempre quis, mas nunca consegui voltar.
Sempre digo que, por mim, os Estados Unidos inteiros podiam explodir, deixasse três cidades: Nova York, San Francisco e New Orleans. Não foi o caso.
Para entender o que acontece lá, precisa-se saber uma coisa. A Louisiana não é "América", é outra coisa. É um Brasil que fala inglês. Os americanos compraram a Louisiana, ela foi colonizada por franceses e espanhóis, numa estrutura econômica muito parecida com a nossa e do resto da América Latina -- latifúndios, escravos, elites da metrópole, aquela coisa toda.
Aquilo ali é a melhor resposta para aquela colocação que alguns idiotas adoram fazer que o Brasil seria diferente, um país desenvolvido, se tivesse sido colonizado pelos ingleses. Geografia é destino, negão, nada a ver com quem chega aqui para mandar no barraco.
Uma comparação melhor, que eu também adoro fazer: a Louisiana é a Bahia dos EUA. Quer ver? Ambos Estados são quentes-como-a-peste, têm cidades com arquitetura colonial (cada uma no seu estilo), parco desenvolvimento econômico, estrutura política falida (para não dizer corrupta), vocação turística (com festas populares famosas no mundo, alalaô), alta população de afro-descendentes, com nítidas influências na cultura: música típica e religiões, digamos, alternativas. Sem esquecer a comida apimentada.
Fico para morrer com a destruição do Katrina, e tudo que está acontecendo por lá. Nem sei se dá para dizer que toda essa violência e falta de lei não aconteceria se, sei lá, Genebra fosse a atingida. Mas não me surpreendo que N'Awlins esteja assim. Nem um pouco.
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