4.10.05

Negócios a parte
O Pedro Dória cantou a bola, e resolvi desencantar um tema que estava há tempos para tratar por aqui.
É o seguinte: é praticamente senso comum que os Estados Unidos são um "plantando tudo dá" econômico. Sempre se pode contar com os americanos para sempre acharem um jeito de ganhar dinheiro, por mais estapafúrdio que seja. Qualquer coisa vende, qualquer revisteca tem mais de milhão de leitores, qualquer blog é lido por milhares por dia, até se falar só de tricô.
Sendo assim, não ia demorar até alguém ter a brilhante idéia de profissionalizar os blogs. Nick Denton foi um deles. Ele criou um "nano-império" de blogs, que se sustentam vendendo espaço publicitário. O Gawker, o primeiro, de fofocas e notícias de mídia de NY, já passou por três "editores". Consegue imaginar um blog que tenha editores contratados? Eu não. Denton já tem 14 blogs, cada um com editor, que tem cotas de posts por dia, sem folga e remuneração extra por páginas visitadas. Que pesadelo. Não a grana, que pode chegar a 10.000 dólares por mês, mas a pressão. Ficar ligado em permanência num fluxo alucinado de verborragia, como disse o Mario Sergio Conti. Fazer isso por prazer (ou falta de vida social) é uma coisa. Outra bem diferente é ser contratado, lá, bater cartão.
De repente, você precisa ter gente que escreva bem e muito, assuntos que valham links, muitos links, bem como cobertura da imprensa, marqueteiros para vender o site e muito tráfego. Como outro blogueiro-empreendedor, David Hauslaib, disse, em uma coluna recente da Wired, para viver de blog, alguém precisa atrair uma audiência na casa das dezenas dos milhares, para começar. Mais uma vez, que pesadelo.
Mas não acho blogs comerciais o fim do mundo. Muito pelo contrário. Mostra a verdadeira natureza de um weblog: uma plataforma de publicação online. É democracia, cada um usa para publicar o que bem entender. Os vários "blogs" de Denton ou do Weblogs, Inc são sites de notícias, colunas online que se aproveitam da velocidade e facilidade da ferramenta. Denton aproveita que os custos são baixos, só isso. Para escrever, pega um jornalista ou escritor free-lance, de preferência descoberto via blog pessoal, paga ali um tantinho, faz um barulhinho na mídia e voilá, tcha-tching, a grana entra.
Isso lá. Aqui, é tudo mais amador, mesmo. Mas até por isso mesmo, mais autêntico. Do alto da minha falta de tino comercial, causa-me estranhamento um blog cujo editor não seja seu dono. Tem muita gente que merece ganhar dinheiro com seus blogs, sem dúvida, mas vou lamentar o dia em que eles vão deixar de ser uma maneira de ter voz na internet (ainda que ninguém esteja ouvindo) para serem apenas empreendimentos comerciais.

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