Naquela manhã, o roteirista que cuida da minha vida estava inspirado.
O telefone que nunca toca chama estridente, nem me mexo. Continuo deitada esperando passar.
- Estão perguntando pelo seu pai, não entendo nada.
O aparelho se materializa no meu colo. Faz tempo que eu não constranjo atendente de telemarketing, vamos lá.
- May I speak with mister J.M.?
Opa, em inglês?
- Who’s this?
- His daughter.
Não, peraí, a filha dele sou eu.
Desconcertada, ela conta que tem 42 anos, mora na Austrália, sua mãe é uma ex-namorada dele do tempo de faculdade. Diz que eu posso confirmar sua história com o povo da Iugoslávia, sabe a data de aniversário dele, quer confirmar o boato de que ele tinha morrido. Tudo bate. Não, não pode ser trote. É surreal demais para ser uma piada de mau gosto.
Confirmo, sim, com Internet e tudo, que uma notícia pode demorar cinco anos para dar a volta ao mundo. Mentira, elas não voam coisa nenhuma.
Fazia 20 anos que eles não se falavam. E nem dessa vez, ele teve coragem de contar-lhe que tinha casado, tido uma filha e enviuvado. Típico.
Em 15 minutos, passamos de únicas a mais velha e caçulinha, cada uma em um canto do planeta.
Eu tenho uma irmã e ela se chama Maja.
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