A saga da cozinha
Ah, a cozinha. My fair kitchen.
Como os banheiros, ela era de um marrom com mostarda, assim, inexplicável. E ela nem tem luz direta, não sei como os antigos donos faziam para cozinhar naquela escuridão. E tem mais uma coisa: quem chega da garagem só entra por ela, porque o elevador social não vai até o subsolo. Não consigo imaginar chegando todo dia em casa e dando de cara com aquela marronzice toda. E com a quantidade de vazamentos ali, a marreta era inevitável.
Uma coisa bonitinha eram os azulejos, decoradinhos de florzinha, bem 70s. Daí, veio a idéia de fazer uma coisa decorada, também. Queria um piso preto e branco e paredes coloridas, então a primeira escolha lógica foi ladrilho hidráulico.
Mas fui convencida que ladrilho hidráulico pode ser lindo, mas mancha, fica encardido, cozinha com ele não é uma boa idéia.*
Cerâmica, então. Para honrar a tradição setentista do meu futuro domicílio, garimpei azulejos antigos naqueles depósitos, os cemitérios de azulejo, para fazer um painel em cima da pia, desenhado pela L., que passou uma tarde estragando o vestido e o sapato naquela poeira, enquanto separava e colocava quadrados de cerâmica de um lado para outro até fazer uma composição bacana. Merci, chèrie.
Piso preto e branco de cerâmica, certo. Não, não queria fazer um jogo de damas no meu chão, e sim algo mais discreto, peças grandes brancas e pequenas pretas nos cantos. E para achar? Achei, sim, mas lógico com um preço compatível com meu capricho.
Aí eu resolvi que a pia ia ser de inox. Demorou muito tempo até eu me lembrar porquê: esse era o material da pia do meu pai, e eu sempre tive antipatia por granito. Só que esse tipo de pia não tem furação, e eu não ia enfiar no meio do painel de azulejo antigo lindinho uma coisa fálica como uma torneira. Granito preto, ok, vocês venceram.
Os armários ainda não estão nem encomendados, mas os marceneiros sempre torcem o nariz quando eu explico como eu quero. Vamos ver, vamos ver.
Mas semana passada, quando eu entrei na cozinha, com o painel e o chão prontinhos, me deu uma alegria: Aiiiii, tá ficando tão fofo!
É gente, vale o perrengue.
*Tá, eu sei que tem gente que faz mesmo assim, não tô chamando de suja a cozinha de ninguém, tá?
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