Quincas e Bela
Dividiram a barriga da mãe, mas não mais se reconhecem. Ele precisava de um teto por uns dias, foi para a casa dela.
No primeiro dia, sai para lá que a casa é minha. Acuado na janela, ele levava uns tapões quando tentava se aventurar para além da sala. Nã-nã-nã-ni-não, daqui você não passa. Ela não tirava o olho dele, mas não chegava perto. Ele até tentava dar umas cheiradas, mas não, ele era intruso, sai pra lá.
Uma noite juntos na cozinha, e já estavam não estavam tão estranhos, mas ainda não eram amigos. Cada um no seu espaço: ela tirava seus cochilos na cama ou no seu cantinho, ele corria pra debaixo do sofá ou pra janela sempre que podia. Umas lambidinhas furtivas aqui e ali, umas cheiradas de reconhecimento de vez em quando.
No terceiro dia, a surpresa: o pote dela vazio, o dele cheio. E ele não se fazia de rogado: mexeram na comida, lá estava ele. Ela, do lado, olhando resignada: Menino come tanto, né?
Ele a ensinou a fazer um monte de coisa legal e errada: pular na cortina, arranhar o sofá, tentar abrir a maçaneta da cozinha. Enfrentava corajoso o castigo, uau.
Quando cansavam de brincar, ela se deitava, dengosinha, esperando as lambidas. Depois era a vez dele: largava-se no meio do piso de taco, ela vinha correndo, dava uns agarrões, e saía correndo na esperança que ele fosse atrás. Nada, ele nem se mexia, e daqui a pouco ela estava de volta.
Finalmente, a última fronteira: a cama. Vem, vem, pode subir, eu deixo. Subiu, viu, venceu, não viu a menor graça e desceu, desdenhou o lugar sagrado. Brincar de morder é mais legal.
Finalmente, a hora de voltar pra casa. Despediram-se e ele foi embora.
Ela não chorou, nem miou. Curtiu um colinho, e foi pro seu canto. Finge um cochilo, cuida do coração partido, até esquecê-lo mais uma vez.
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