Memórias magnéticas
Não foi por falta de aviso. Ela estava há meses martelando que tinha separado tudo numa sacolona, que se eu quisesse que fosse lá buscar e levar pra minha casa, que ou ela ia chamar a Unibes ou ia tudo pro lixo, e eu lá, esquecendo propositalmente o assunto, a sacolona pesada e gigante ignorada todo final de semana. Aí veio o ultimato. Amanhã seria o dia D.
Minha avó sempre foi muito mais desapegada que eu.
Eu tentei uma vez, juro. Mas mexer naquele monte de retângulos de plástico anotados com diversas versões da minha letra garranchada foi demais para mim. Às vezes eu sorria, às vezes eu engolia seco, às vezes eu ficava ali, paralisada pelas lembranças. Foi demais para mim, dei uma desculpa qualquer e a sacolona voltou para onde estava.
Mas de hoje não podia passar.
Resolvi separar algumas, como lembrança, e despachar o resto. Desde aquelas em que eu gravava disquinho da Turma da Mônica, com uma letrinha redondinha bonitinha, até as últimas, cujas capinhas eu diagramava no computador, imprimia colorido, mas que falta do que fazer. Umas gravadas direto da FM, com observações do tipo "ruim, o cara fica falando no fim", outras com capas batidas na máquina de escrever, as que os meninos gravavam para mim com Sonic Youth e Nirvana, TROCENTAS coletâneas das mesmas faixas, em que só variava a ordem, um lado mais lento, outro mais acelerado. Muito rock, algum eletrônico, MPB, jazz e blues aqui e ali.
Aí eu olho para o meu Itunes e vejo lá: bastante rock, um tanto de eletrônico e pitadas de MPB, jazz e blues. Playlists que no fundo são variações do mesmo repertório, quando eu cismo com alguma coisa ouço até gastar.
Quanto mais mudo, mais continuo igual.
(A foto é do tapedeck.org)
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