30.8.09

O H1N1 e eu
Não, não sei como eu peguei. Sei que trabalhei 14 dias direto, muitos deles mais de 12 horas por dia, numa tensão desgraçada e comendo bem mal. Stress, mais que qualquer outra coisa, sempre joga minha resistência no chão. Três casos suspeitos no trabalho, mas suspeitos mesmo, ninguém chegou a tomar Tamiflu e eu só tive contato com um deles. O bicho tá no ar, a verdade é essa.

Domingo passado, à noite, já estava bem estranha. Corpo dolorido, arrepios de frio. Fui resolver um projeto que me tomou boa parte da noite, no dia seguinte acordei ainda mal e com uma leve febre. A dor de garganta (que nunca foi forte) não sei bem quando começou, foi em algum momento do dia ou na terça. Tomei um Tylenol e fui trabalhar já resolvida a tirar da frente os pepinos do dia o mais rápido possível e voltar logo para a cama -- o que só aconteceu às seis da tarde. Durante o dia, uma falta de apetite atípica: o almoço voltou intocado, não consegui encarar nem as fritas. E quem me conhece sabe, eu nunca deixo passar a batata frita.

Já em casa, a febre batia 38,5 graus. Não sou de ter febres altas, comecei a me alarmar. Dadas minhas tendências drama queen, conversei com amigos e resolvi tomar "duas aspirinas e ligar pro médico de manhã". Noite péssima, suadeira, tremedeira, dores, termômetro derrubado e esmigalhado no meio da noite. Às seis e pouco desisti do sono, esperei o mundo acordar e consegui um termômetro emprestado do zelador para conferir: os 38,5 estavam lá, imutáveis. Uma hora mais tarde, já eram 39.

Minha médica atendeu o telefone, ouviu e gritou que eu tinha que ir para o hospital NAQUELAHORANAQUELEMINUTOJÁ, eram sintomas clássicos e tal. Estava mole demais para ir sozinha, não raciocinei direito e liguei para a L., que muy fofamente me levou para lá e ficou comigo o tempo todo. Amizade é isso, gente. Tudo bem que ela ganhou uma enfermeira imune na barganha.

O Sírio-Libanês está com uma ala do PS separada apenas para gripe suína, e funciona bem e rapidinho. Deram máscaras cirúrgicas, fizeram uma pré-triagem, e atenderam rápido. Os exames deram o veredito: sete dias trancafiada em casa com uma caixa de Tamiflu, remédios sortidos e um folder cheio de instruções, entre elas: interagir com pessoas apenas de máscara cirúrgica, evitar sair do quarto e contato proibido com pessoas do grupo de risco, inclusive idosos. Ah, mas eu queria só ver dona Lili longe da minha casa. Já a empregada que trocou as minhas fraldas se recusava a passar do elevador para me deixar água e comida.

Noves fora: em dois dias a febre passou, mas as dores (localizadas nos ombros e pescoço) foram outra história. Não eram fortes, mas incomodavam a ponto de não me deixar posição para nada, nem dormir, nem ler, nem ver TV, nem ficar no computador. Na quinta senti uma pressão estranha no peito, voltei ao PS para descobrir que era reflexo das dores nas costas. Um relaxante muscular me garantiu algumas horas de sono por noite dali em diante. Hoje é o primeiro dia em que ela não incomoda tanto, por isso consegui sentar e escrever.

Tenho a impressão que na verdade isso é mais efeito colateral do Tamiflu do que a gripe em si. O remédio também deu uma boa bagunçada no meu sono. Graças a Deus ele acabou ontem.

O apetite aos poucos dá o ar da graça -- devo ter perdido uns três quilos estes dias. Spa H1N1, gente! Ainda tenho uns dois dias de antibiótico (a dor na garganta era uma infecção, mesmo) e amanhã acaba o isolamento. Volto ao hospital para pegar um atestado de alta e por favor, vida normal, não aguento mais.

Já trabalhei com a divulgação de Tamiflu, então considerava o pânico com gripe suína uma bobagem, afinal, a letalidade é igual a de uma gripe comum. Mas uma pessoa gripada pode receber visitas, toma no máximo um Trimedalzinho, o sistema imunológico responde e logo está na ativa. Ano que vem estou na fila dessa vacina, não quero passar por outra assim, não.

E querem saber de uma coisa? Tudo isso, e eu não dei um único espirro.

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