10.9.09

Herança

Ija mia mi kerida
Te vo dar un ermozo
No kero madri no kero
Ke el ermozo, yo no lo gozo,
No kero madri, no kero

Ija mia mi kerida
Te vo dar un alto
No kero madri, no kero
Ke el es alto
Yo no l'alkanso
No kero madri, no kero

Ija mia mi kerida
Te vo dar un basho
No kero madri no kero
Ke el es basho
Sarastan basho
No kero madri no kero

Ija mia mi kerida
Te vodar un borracho
Ya kero madri, ya kero
Ke el borracho
Yo ya me paso,
Ya kero modri ya kero


A letra acima, que parece ter sido escrita numa espécie de miguxês arcaico, é uma canção sefaradita de casamento. Sefaraditas, para quem não sabe, são os judeus de origem ibérica que por causa da Inquisição fugiram para os países mediterrâneos, norte da África, Oriente Médio e parte dos Bálcãs (incluindo aí a Bulgária). Eles falavam ladino, essa mistura de espanhol arcaico com hebraico, e por causa do ladino meu avô judeu búlgaro sempre falou português melhor que a minha avó não-judia búlgara.
Mas Dona Lili, assimilada que só e com tempo para dar e vender, entrou para um grupo de senhoras judias que estudam ladino e as tradições sefaraditas, e no domingo cantou em um evento com suas amigas algumas canções tradicionais, entre as quais a pérola acima.
Basicamente, é uma mãe oferecendo uma série de namorados à filha: um "ermozo" (bonito), um alto, um "basho" (baixinho), um "celozo" (ciumento). Ela rejeita todos, até que a mãe oferece um "borracho", um bêbado. Claro que esse ela aceita.

Essas minhas ancestrais, viu. Desde 1492 escolhendo o homem errado.

Dá para ouvir uma versão dessa música, gravada pela Fortuna com uma letra ligeiramente diferente, aqui e aqui (com letra).

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