Pink is like red but not quite
Um dia me peguei reparando como menina pequena, pequena mesmo, tem tudo em cor-de-rosa: roupa, mochilinha, sapato, chapeuzinho, meia, pulseiras, caderninho, o que seja. Engraçado que comigo não foi assim. Meu quarto de criança era todo vermelho e branco -- roupa pink ou rosa-bebê, então, não consigo lembrar de uma sequer no meu armário.
Comentei isso com minha avó, que disse que a responsabilidade disso era do meu pai. Ele detestava cor-de-rosa.
A lembrança, então, veio rasgando: eu bem pequena, preparando o presente de dia dos pais da escolinha. Era uma daquelas escovas de sapato, de cabo de madeira. Nós tínhamos que pintar o cabo de um jeito "bem bonito para o papai". Eu peguei a tinta vermelha, pintei um pouco, achei meio sem graça, e tive a brilhante idéia de misturar com o pote de tinta branca. Ficou um rosa marmorizado-decapê-manchado-mesmo, que eu achei a coisa mais linda do mundo, o papai ia adorar.
O papai deu um senhor sorriso amarelo, acho que até falou algo na linha que não gostava de rosa, guardou a escova no armário da área de serviço e pronto acabou-se. A escova ficou ali, sem uso, por duas décadas, até que eu viesse arrumar as prateleiras depois que ele morreu. Nem lembro que fim dei nela.
Ontem pedi à manicure que pintasse minhas unhas de um tom forte de goiaba, meio rosado, em vez do vermelho ou vinho habituais. Não paro de admirar minhas mãos, achei que ficou a coisa mais linda do mundo.
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