3.12.11

Trilha sonora
 

E é com um misto de orgulho e vergonhinha que eu preciso anunciar: o disco do fim de 2011 é exatamente o mesmo do fim de 1991. Achtung Baby, ai Natasha, jura?

Mas o disco é bom, fazer o quê. E dá raiva, mas é fato: o bicho continua bom até hoje. U2 envelheceu, e envelheceu meio mal, mas minha memória afetiva não consegue achar isso desse disco, nem fazendo aquele básico esforço de advogado do diabo.

Eu tinha 15 anos (juro que achava que era menos) e já era fã de longa data. Ganhei uma fitinha cassete do The Joshua Tree quando era pequena-pequena mesmo, amava o Rattle and Hum num grau que fazia Seu Jacó, meu sacrossanto avô, assistir repetidas vezes o documentário em VHS (mentira, fazia nada, ele adorava aquele trecho do coral gospel) e aí veio essa bomba sonora aí. Se alguns anos mais tarde eu iria me encantar com música eletrônica, as sementes foram plantadas por este disco e o do Garbage, certeza.

Uns anos mais tarde, quando já estava ouvindo outras coisas, lembro de ter pensado em Achtung Baby e tê-lo definido, cá com meus botões, como A GRANDE DOR DE CORNO DO BONO. Porque era a primeira vez que eu ouvia um disco do U2 tão desbragadamente de amorzinho. Os outros tinham outros contextos, outras histórias, mas Achtung Baby é, do começo ao fim, love songs. Não faço ideia quem foi a musa inspiradora, mas é só prestar atenção: é paixão que inicia, paixão mal resolvida, paixão que vira amor, declaração de cumplicidade, paixão que vira abandono anunciado. Daria para tirar Zoo Station dessa, mas aí pode-se argumentar que a música também tem a ver com a paixão por uma cidade -- no caso, Berlim. E quando a gente tem 15 anos, e tá vivendo pela primeira vez nossas próprias dores de corno, reais ou imaginárias, é a trilha sonora da vida.

Uma das coisas que sempre me atraiu nesses caras era como cada canção era uma historinha, em letra e melodia. Acho que Achtung Baby foi a última vez que eles conseguiram fazer isso de uma maneira tão perfeitinha. Em 2011, Achtung Baby ainda me faz viajar como fazia em 1991, com meu walkman (ou já era discman?). Talvez agora seja até mais forte, porque quando eu ouço as faixas do disco, ele desperta tanto a menina de 15 anos que eu fui como da mulher de 35 que eu sou. Em algum lugar desse disco, as duas se encontram.

Nenhum comentário: