O carro fantasma
Quando eu resolvi trocar de carro, demorei um tempo escolhendo modelo. Quando escolhi modelo, passei outro tanto escolhendo concessionária, quem me dava desconto, onde o financiamento era melhor, contas-contas-contas. Mas se tinha uma coisa com a qual eu não ia perder tempo era a cor: eu já tinha visto, uma ou duas vezes, o modelo que eu gostava num adorável tom de suco de uva, nem roxo gritante de verdade nem aquele vinho cansado. Cansada como eu estava do prata-preto-prata-preto-prata, fui seca pedindo: Eu quero roxo!
A vendedora me olhou como se eu fosse doida. Explicou que em todos os seus anos nessa indústria vital, nunca tinha visto aquele modelo nem roxo, nem vinho, nem qualquer cor remotamente semelhante. Já tivemos azul claro... Fiz a coitada ligar para colegas, perguntando do tal roxo. Moça, eu já vi, em vários lugares, não tô louca. No hay. Mas já existiu, certo? Ela dizia que não. Resignada, escolhi outra cor, assinei o contrato e vou passar três anos pagando.
Agora o carro roxo me persegue. Eu almoço nos Jardins, lá está ele. Saio para a padaria, ele está estacionado na frente do meu prédio. Vou à feira com minha avó, ele dobra a esquina. Visito a B. na Pompéia, ele aparece na minha frente.
Ainda vou deixar um bilhete para o dono:
Caro(a),
Seu carro é uma alucinação minha.
Atenciosamente, N.
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