26.9.13

"Bi, me ajuda"

Ele estava pedindo ajuda na frente da Caixa Econômica da Paulista. Alto, magro, bem maquiado com base e batom cor de rosa, uma presilha no cabelo preto curto, bolsa de moça, celular com capa de oncinha na mão. Manquitolava de leve. "Moça, moça, me ajuda" Mantive um pouco de distância, mas atendi perguntando o que houve. Explicou que trabalhava em uma loja de cosméticos em um shopping do outro lado da avenida, que estava voltando para casa de metrô quando esbarraram nele e entortaram sua perna.

Como assim, entortaram sua perna? Ele me mostrou, o pé direito estava em um ângulo estranho, mas nem tanto. Eu continuava fazendo cara de não entender, até ele perceber que faltava a informação essencial: era uma prótese, "eu sou amputado". Disse que precisava consertá-la antes de estragar de vez, e que havia uma costureira na esquina da Paulista com a rua X, perto da farmácia Y, que faria o serviço para ele, mas que cobrava 25 reais que ele não tinha.

"Bi, tou aqui há meia hora pedindo ajuda, mas ninguém fala comigo. As mulheres acham que eu vou assaltar, os homens pensam que aqui [apontando para o celular] tem uma faca, e eu não consigo ir até o shopping com a perna assim, bi, vai entortar de vez e eu vou acabar me arrastando na rua. Ai, bi, nessas horas, a gente não acha família, os amigos não atendem, eu não sei o que fazer. Passa na loja depois que eu te maquio".

Pedi para pegar na perna magra dele, ele deixou. Era realmente feita de espuma, da canela até o meio da coxa, pelo menos. Me fez comparar com a outra perna, onde havia claramente músculo e osso. Aí entendi melhor a história da costureira. Eu, que nunca me deixo enternecer pelas histórias de gente pedindo ajuda na rua, sempre vou passando e dizendo "não, não tenho trocado", abri a carteira. Só tinha uma nota de 50 reais, que ele pegou rapidamente, agradecendo muito, dizendo para eu passar na loja depois para ganhar uma maquiagem grátis (mas não mencionou nada sobre devolver o troco) e me aconselhou a cuidar mais da minha pele.

O que me fez ajudá-lo? A história batia, realmente havia uma perna de tecido meio torta ali, e o desespero dele era latente, porém não tenho 100% de certeza se era verdade, e se no outro quarteirão ele não ia contar a mesma coisa e conseguir mais dinheiro. Mas se for, achei que 50 reais era um preço pequeno para fazê-lo acreditar que alguém poderia olhar além de sua aparência desconcertante para muitos, e ver ali um ser humano digno pedindo ajuda em um momento de necessidade, e se saber merecedor dela.


Um comentário:

Anônimo disse...

Num mundo em que a gente precisa justificar a ajuda, em que a gente precisa desacreditar mil vezes antes de estender a mão a alguém, você deu a razão mais perfeita de todas: fazer com que o outro acredite que é merecedor de ajuda. Obrigada por isso. ;)